quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Valor para o Acionista. Será?

Atualmente é raro empresas de grande porte serem majoritariamente de um único acionista. Uma notável exceção é a família Porsche-Piech que possui mais de 50% do grupo Porsche-Volkswagen. Também há aqueles que mesmo possuindo menos de 50%, ainda exercem o controle da empresa, pois possuem ações suficientes para conseguir determinar o futuro da empresa. É uma participação controladora, geralmente acima de 20% das ações com direito a voto.

Exemplos:

Mark Zuckerberg - 28% das ações do Facebook
Família Wallenberg - 40% das ações da Saab, 30% da Electrolux e 20% da Sony-Ericsson.

A pulverização da propriedade das empresas acarreta que os executivos/gestores/administradores acabam tendo o controle real sobre a maior parte das grandes empresas, apesar de não possuírem uma participação acionária representativa. O problema é que esses gestores profissionais acabam promovendo jogadas comerciais que vão de encontro aos seus próprios interesses, e não dos acionistas. Esses modernos administradores podem maximizar as vendas, em vez dos lucros, ou inchar a empresa, já que seu prestígio muito em parte acompanha o tamanho da empresa que dirigem e a quantidade de pessoas sob seu comando.

Muitos economistas sugeriram que esse problema poderia ser reduzido alinhando os interesses dos administradores com os dos acionistas. Eles sugeriram dois caminhos principais: Um deles é trocar gestores que não satisfaçam os acionistas por outros. O segundo é pagar uma grande parte dos salários dos gestores em forma de ações das empresas, forçando-os a andar mais próximos do ponto de vista do acionista. Isso ficou conhecido como "maximização do valor para o acionista". Começou com a General Electric, mas logo virou moda também no resto do mundo.

Sob essa pressão crescente, logo os gestores começaram a buscar cada vez mais o lucro em prazos cada vez mais curtos, se necessário às custas da competitividade a longo prazo. Uma das formas encontradas foi utilizar instrumentos financeiros que proporcionavam lucros rápidos e altos. Forma-se então um jogo de interesse mútuo entre os gestores dessas empresas e o grupo crescente de acionistas de curto prazo, que ao contrário da escola do "Value Investing", buscavam ganhos grandes e rápidos no mercado de ações e pouco se importavam com os fundamentos da empresa. Tudo isso acabou sendo mascarado com o lema “maximizar o valor para o acionista”. 

Com esse novo cenário logo surgiram os altos salários dos diretores em grande parte financiados pelo aumento do lucro a curto prazo para satisfação da nova classe de acionistas. Distribuíam a maior proporção possível desses lucros sob a forma de dividendos e recompra de ações. Isso também permitiu oferecer salários e bônus muito mais elevados do que os oferecidos por outros setores, atraindo os profissionais mais brilhantes para negociar derivativos ou construir modelos matemáticos para definir seus preços. Passava desapercebido que muitas vezes era à custa da qualidade do produto, novos investimentos e achatamento salarial da mão-de-obra que se tornava ainda mais insatisfeita.

Esse novo "esquema" não somente fez as empresas funcionarem basicamente com visão restrita ao curto prazo, mas também as tornou mais “financeirizadas”. Ou seja, cada vez mais dependentes de atividades financeiras próprias. Com a tendência de obter os maiores rendimentos proporcionados pelas atividades financeiras, muitas empresas mudaram o foco para a gestão de ativos financeiros. Isso as fez cada vez mais menos interessadas em sustentar sua operação principal/original no longo prazo, afinal era crescente a pressão do novo grupo de acionistas de curto prazo.

A pressão da “maximização do valor ao acionista” fez diminuir muito as verbas para investimentos a longo prazo como máquinas, pesquisa e desenvolvimento e treinamento, ocasionando a redução da sua competitividade no longo prazo. Ao contrário do senso comum, é o reinvestimento dos lucros e não a emissão de novas ações ou empréstimos bancários a principal fonte de financiamento para investimentos nas empresas.

Com o empoderamento desses gestores devido à administração de recursos financeiros cada vez maiores, tornou-se mais comum o lobby entre empresas e reguladores. Cresceu muito o fluxo de pessoas entre as agências de regulação e o setor financeiro dessas empresas. Muitos funcionários das agências tornaram-se mais dóceis e simpáticos às empresas que deveriam fiscalizar, pois isso facilitaria a conquista de oportunidades de carreira nessas empresas.

Esse conjunto de fatores só trás prejuízos a longo prazo às empresas e a sociedade em geral. Os únicos beneficiados são os gestores, pois quando a empresa começa a ter problemas a maioria dos que planejaram esse colapso já não trabalha mais lá. Isso também vale para os acionistas de curto prazo que já encerraram sua posição, pois andam alinhados com esses gestores.

Por tudo isso acontecer, hoje em dia já não é tão simples para o pequeno investidor comprar ações com a estratégia "buy and hold" e visão a longo prazo. É muito simples mascarar as verdadeiras intenções de um corpo empresarial através de manobras contábeis e criativas formas de escriturar a história de uma empresa. Fiquemos sempre atentos.

Abraços do Bufunfa!

15 comentários:

  1. Olá SB,

    Temos que ficar espertos, mas acredito que ainda existem empresas boas.

    Abraços.

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  2. A crise do suprime em 2008 mostrou na prática isso que você trouxe no post.

    Os gestores ganharam bônus milionários mesmo levando algumas empresas a caminhos insustentáveis.

    Você pode por gentileza citar algum material sobre o assunto? Agradeço antecipadamente.

    PS: seu feed não está atualizando no widget do meu blog e por isso tirei. Veja se seu RSS nào está com problema.

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    1. Amigo alemão, nem faço ideia de como faz para ver isso do feed. Não entendo nada dessa parte de informática. Como faz? kkkkk
      Em relação ao material, vou pesquisar aqui e te informo.

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    2. Você usa uma página estática no seu blog ao invés da tradicional página com os últimos posts.

      Talvez seja isso. Vale a pena ver no widget de outros blogueiros se também está com problema para atualizar.

      Pode ser um erro do meu blog também pois uso a plataforma Wordpress e não o Blogger.

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    3. Entendi. A maioria dos blogueiros me adicionou quando usava ainda a página tradicional, então não está dando erro.

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  3. No meu blog, atualizou !! apareceu para mim sua postagem nova, então creio que está tudo certo !!

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    1. Valeu Stifler. Obrigado. Eu conferi em outros e também apareceu.

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    2. O problema está no widget do meu blog mesmo. Vou deixar lá de qualquer forma.

      Abraço.

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  4. Nunca tinha parado pra pensar sobre isso. Eu imaginava que existia jogo por trás dessas cortinas, mas não nesse nível. E pior, fazerem isso logo depois de uma estratégia para que os gestores focassem no retorno pros acionistas. Eu hein, que jogo sujo.

    Infelizmente, a índole do ser humano é algo complicado. A tendência pro jeitinho, pro ganho fácil, é gigantesca, desde os primórdios. Mas tem se acentuado muito nos últimos anos, exponencialmente.

    Imagino que não seja apenas no Brasil tudo isso. Mas que aqui deve rolar solto, ah isso deve. Do jeito que as agências reguladoras daqui são excelentes no que fazem, oh...

    Quem se dá mal e o iniciante estudante de investimento, querendo ganhar no meio de uns tubarões desses.

    Há alguma esperança pra isso?

    Um abraço

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    1. Isso vem acontecendo desde os anos 80 nos Estados Unidos, porém se acentuando cada vez mais, ainda mais após os anos 2000. Veja por exemplo hoje em dia: Qualquer loja de varejo tem seu próprio banco! Até mesmo as montadoras de veículos e etc. Há tempos atrás a GM praticamente foi à falência após anos sobrevivendo apenas com lucros oriundos de atividades financeiros (que não são venda de carro). Esse desmanche da GM não começou há poucos anos, mas bem lá atrás.

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  5. A grande questão é que o buraco é mais embaixo. Qualquer empresa pode ser lucrativa: basta ter gente fera na tal "contabilidade criativa".

    Pra saber se a empresa é realmente lucrativa, não é só receita e lucros que devem ser olhados. Estes dados são facilmente maquiados.

    A verdade vêm à tona quando se olha o fluxo de caixa. Essa é uma das habilidades de maior valor pro investidor B&H: saber decifrar o fluxo de caixa.

    Mesmo com os níveis de governança que a Bovespa impõe, não estamos livres de más empresas com demonstrativos distorcidos.

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    1. A criatividade para o jogo sujo sempre existirá, isso é lamentável mesmo.

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  6. Pois é Senhor Bufunfa... a gente precisa assumir o papel de outsider como acionista minoritário. É surpreendente como alguns números fundamentalistas exercem uma fascinação entre investidores que arriscam, sempre com a máxima de "não pode dar nada errado" valores expressivos em determinadas empresas. Sem informações privilegiadas, é difícil bater o martelo. Por isso a diversificação é importante.

    Abraço!

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    1. É verdade. Aquele papo de colocar os ovos em uma só cesta e tomar conta é para os grandoes. A sardinha não tem força para afirmar tal coisa!

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