terça-feira, 17 de outubro de 2017

Riqueza e Religião Combinam?


Bom dia amigos do Bufunfa!

Hoje o tema é um tanto incomum em nosso bate papo diário na Finansfera.
Podem a Religião e a Riqueza caminharem juntas em harmonia na vida de uma pessoa?

Existe um senso comum equivocado de que a religião Cristã (que será a base da reflexão de hoje) é contra a riqueza e a favor da pobreza. Será?

Excluindo os ateus por motivos óbvios, será que todos da Finansfera que buscam a independência financeira estão condenados ao inferno?

O texto hoje é voltado não para evangelizar ou disciplinar os leitores. Tenham em mente que é uma reflexão oferecida aos amigos cristãos. Aos irmãos e amigos de outras religiões ou ateus que quiserem ler o post por curiosidade, peço perdão se em algum momento se sentirem ofendidos de alguma forma, pois não é meu objetivo. Sempre vou respeitar todas as crenças e opiniões.

"Texto sem contexto é pretexto para heresia"

É baseada na afirmação acima que pretendo destrinchar as afirmações da Bíblia que muitos cristãos usam para defender o comunismo e abstenção de bem materiais.

Gostaria de informar de antemão que tenho fé cristã mas não sou frequentador de igreja ou algum tipo de líder religioso. Meu conhecimento da Bíblia provêm da mesma curiosidade que tenho dos demais temas que também estudo frequentemente.

Também cabe salientar uma grande diferenciação que necessita ser feita quando estamos falando deste tema. Falar de fé e religião é diferente de falar de igreja X, Y ou Z. Não estamos falando de católicos, evangélicos ou testemunhas de Jeová. Não me venha falar que só existem ladrões gananciosos e charlatões em todos os lugares. Da mesma forma que é ignorância afirmar que todas as instituições religiosas são puras e bem intencionadas, afirmar o contrário também é tolice.

Abaixo abordarei os 7 principais mitos sobre dinheiro e pecado


# Mito 1 - Acumular Riqueza é Pecado
Baseados em alguns textos fora de contexto e análise equivocada, são muitos que pregam que o dinheiro é a "raiz de todo mal". Muitos também entendem errado a narrativa de Jesus quando orientou:

"Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me." Mateus 19:21

A mesma Bíblia que muitos afirmam ensinar a doutrina da pobreza, também nos conta que Deus fez de Salomão o homem mais rico sobre toda a terra. Também fez de José vice governador do Egito e também possuidor de muitas riquezas. E Jacó que chegou à uma nova terra com as mãos abanando, saiu riquíssimo com um grande rebanho de toda a espécie de animais.

Será a Bíblia contraditória como muitos dizem?
Será mesmo que Jesus era contra a riqueza e por isso orientou o jovem a vender tudo o que possuía? Será que não foi uma forma de mostrar para aquele jovem que o mais importante para ele era o dinheiro ao invés de Deus?

Não seria a primeira vez que Deus testa o homem. Vocês já devem ter ouvido falar da história de Abraão que levou seu filho Isaque para ser sacrificado a pedido de Deus. O final a gente já conhece. Deus não permitiu que Abraão concebesse o fato, revelando posteriormente que este era apenas um teste de sua fé.

Na verdade o dinheiro não é a raiz de todo mal

"Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.” (Mateus 6:24)

"Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (1 Timóteo 6:10)

Veja nesses dois versos que o problema não é o dinheiro ou a quantidade dele. O problema é o amor ao Dinheiro. O que significa este amor?

É trocar Deus pelo dinheiro como sendo o mais importante na sua vida. É você achar que o dinheiro é que te trará segurança, salvação e felicidade. É você achar que é maior ou mais importante por causa do dinheiro.

Dinheiro não compra felicidade, saúde ou amor. Você também não compra essas coisas com Deus, pois com Ele essas coisas são dadas de graça.

Será que seu amor ao dinheiro é tanto que te faz perder o sono com os rumores do mercado?

“Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir.” (Eclesiastes 5:12)

Reparem que o trabalhador não é necessariamente o pobre, afinal "quer coma pouco, quer muito".
Mais uma vez a diferença que se dá entre o Trabalhador e o Rico é o amor ao dinheiro


# Mito 2 - Juros é Pecado, logo Investimentos à Juros também
A base para esse entendimento ignorante está aqui:

"Se alguém do seu povo empobrecer e não puder sustentar-se, ajudem-no como se faz ao estrangeiro e ao residente temporário, para que possa continuar a viver entre vocês. Não cobrem dele juro algum, mas temam o seu Deus, para que o seu próximo continue a viver entre vós. Vocês não poderão exigir dele juros nem emprestar-lhe mantimento visando a algum lucro." Levítico 25:35-37

Mas a mesma Bíblia ilustra uma outra história chamada parábola dos talentos. Vou resumir a história:

"Um homem rico, que se ausentando de seu país, chama alguns de seus servos e lhes dá seu dinheiro para que administrem enquanto estiver fora. Cada um desses homens recebeu uma quantidade. Aquele senhor, depois de muito tempo, volta e resolve acertar contas com os três homens que estavam incumbidos de administrar suas riquezas. Dois deles administraram muito bem, porém, aquele que recebeu menos foi duramente criticado e punido, pois não fez aquele talento que recebeu render durante todo aquele tempo. O homem rico termina dizendo:

"No mínimo o que eu esperava era que tivesse dado o meu dinheiro aos banqueiros, e quando eu viesse, receberia o meu com os juros."

Parece que o CDB é mais antigo que imaginávamos hein! kkkkkk

Será a Bíblia contraditória?

Repare bem que a Bíblia não proíbe os juros, mas proíbe que você haja como um agiota aproveitador. A Bíblia te orienta a não aproveitar da pobreza extrema de uma pessoa que passa necessidades para atolá-la ainda mais em dívidas. Você tem coragem de ver um irmão passando fome, e ao invés de ajudá-lo exercendo a caridade, aproveitar a situação para emprestar a juros para ganho pessoal?
Lembre-se que em tempos remotos a pessoa que não pagava a dívida tornava-se escrava literalmente de seu credor. Muitos usavam a tática de emprestar para pessoas necessitadas no intuito de ganhar um escravo com o potencial calote.

É muito diferente da situação de emprestar dinheiro à alguém que não está passando necessidade mas que queira fazer a compra de um bem de valor considerável, ou antecipar a compra de um item dando como garantia uma renda futura. É ainda mais justificável esse empréstimo quando o objetivo for investimentos em algum tipo de negócio que produzirá riquezas para o tomador.


# Mito 3 - Ricos não entrarão nos Céus
“E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (Lucas 18:24)

Esse verso faz parte da parábola do Jovem Rico que foi orientado por Jesus a vender tudo o que possuía e dar aos pobres.

Jesus não afirma que pessoas prósperas não entrarão nos Céus, somente os ricos terão essa dificuldade.

Qual a diferença??? Para nós aparentemente nenhuma, mas no contexto daquela parábola tem muita diferença.

Neste contexto o rico é quem ama a riqueza e é servo dela.

“Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade.” (Eclesiastes 5:10)

Veja que as pessoas que amam o dinheiro e abundância nunca se fartarão. São essas as pessoas que dificilmente entrarão nos Céus. É a clássica diferença entre "amar ou usar" as coisas. Eu abordei essa diferenciação anteriormente neste post aqui


# Mito 4 - Dinheiro é Sujo e advém da Exploração de Pessoas
Muitos falam que o dinheiro é sujo pois é necessário explorar as pessoas para acumular riquezas.

Será? Vejam?

“O que trabalha com mão displicente empobrece, mas a mão dos diligentes enriquece.” (Provérbios 10:4)

“A riqueza de procedência vã diminuirá, mas quem a ajunta com o próprio trabalho a aumentará.” (Provérbios 13:11)

“Vale mais ter um bom nome do que muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a riqueza e o ouro.” (Provérbios 22:1)

Para resumir: É impossível acumular riquezas sem trabalho duro. O que trabalha sem afinco e foco não acumula nada. O dinheiro deve ser honesto, pois o que vem de fontes erradas além de te fazer pecar, logo será perdido de alguma forma. Mais importante que o dinheiro é a índole e o caráter.


# Mito 5 - O Cristão NÃO deve Estudar sobre Dinheiro
Dedicar tempo de estudo à economia e investimentos não é amar o dinheiro. Não é o tempo gasto que vai te dizer o que você ama. Isso está relacionado a importância e posição que isto tem em seu coração.

“De que serve o dinheiro na mão do tolo, já que ele não quer obter sabedoria?” (Provérbios 17:16)

Entenderam né?

# Mito 6 - Fazer as Contas dos Gastos é Avareza
Será mesmo que temos que sair comprando e não ver o preço de nada? Ser detalhista em relação para onde está indo o seu dinheiro é avareza?

“Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?” (Lucas 14:28)

A Bíblia nos ensina a ter planejamento e fazer tais contas! Então não é avareza, pelo contrário, é sabedoria.

# Mito 7 - Independência Financeira é Loucura e Pecado
Este mito é baseado na passagem bíblica abaixo:

"Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?"

Mas esquecem de completar com a frase de Jesus que vem logo a seguir:

"Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus."

O que torna este complemento tão valioso a ponto de quebrar esse mito?

Jesus não estava condenando uma pessoa por juntar muitos bens ou tesouros para viver bem o resto dos dias. A ideia central é que ele buscou o conforto material e se esqueceu da vida espiritual. É isso exposto na diferenciação entre rico para si mesmo e não rico para com Deus.

Ser rico para com Deus é viver com Deus. O homem foi sábio quando se planejou para viver confortavelmente, mas foi tolo por esquecer o aspecto mais importante da sua vida que era o lado espiritual. Como a crença do cristianismo é a vida eterna com Deus, é uma conclusão lógica investir mais em algo eterno do que em algo temporário, não concordam?

Lembrem que José do Egito também construiu inúmeros depósitos e guardou as riquezas produzidas pela nação durante vários anos. Quando chegou a época da crise (escassez e seca) havia com o que se sustentar e viver confortavelmente.

Qual a diferença entre José e o homem do primeiro exemplo?

Eu digo: José também era rico para com Deus


Conclusão

Obrigado se você chegou até aqui. Realmente este tema muitas vezes afasta as pessoas. Isso deve-se ao fato de ser abordado por pessoas que afirmam ser possuidoras da verdade.

"Religião e política não se discutem!"

Será? Eu creio que se discutem sim, mas por pessoas que sabem conversar.
Espero que tenha abordado o tema de forma respeitosa expondo a minha maneira de ver as coisas.

Mais uma vez volto a dizer que o objetivo é propor uma reflexão para aqueles que assim como eu tenham a fé cristã. O objetivo não é converter pessoas ou afrontar suas crenças.

Espero que as palavras acima sejam de alguma valia.

Obrigado e até o próximo post!

17 comentários:

  1. Olá Bufunfa.
    Seu post foi muito pertinente pra quem tem a fé Cristã.

    Sou seguidor de Cristo e de seus ensinamentos, creio no evangelho salvador de sua vinda ao mundo, e creio que sua volta é certa.

    Quanto ao tema proposto, de fato é algo que muitos cristãos pensam e consideram em seu coração. Mas você abordou de uma forma inteligente. Com bons exemplos.

    O grande mal é confiar no dinheiro, ter ele acima de Deus. Na verdade, qualquer coisa que coloquemos acima de Deus é um mal, é algo que Deus definitivamente não quer. Mas como o dinheiro é algo que as pessoas facilmente se encantam, Jesus foi enfático nesse assunto. Da mesma forma em relação à sexualidade, pois como é algo que atrai fortemente o ser humano, Deus precisou ser claro sobre o que ele abomina e o que ele considera o correto, o padrão estabelecido por ele.

    Muita gente não quer nem saber da Bíblia, sem nem ao menos ler o que tem lá, muito menos fazer o que você fez, um estudo minucioso.

    As pessoas precisam entender o que realmente importa. Os fins, e não os meios. Dinheiro é um meio pra o sustento, uma ferramenta.
    Deus é o foco, amar e ajudar o próximo é o que ele deseja de cada um.

    Parabéns pelo post.

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  2. Excelente post sr Bufunfa!

    Muito bem colocado os pontos! Dias atrás estava conversando com minha mãe a respeito de Salomão. Assim como você, também sou cristão sem frequentar a igreja. E como minha mãe sempre vai a igreja, as vezes debatíamos sobre isso. Hoje ela já não pega no meu pé, não sei se me entendeu ou se desistiu kkk

    Um filme que gosto e fala sobre religião é - O Livro de Eli. Já assistiu?

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    1. Obrigado Inglês! O filme eu assisti sim! O cara é bem violento e matador! kkkkk

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    2. A Igreja Católica apenas põe a riqueza em segundo plano em relação à elevação do Espírito e à moral cristã.

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    3. A questão é que depende de quem você busca conselhos sobre dinheiro. Se é de um padre que fez voto de pobreza, de um muçulmano que condena juros ou de um rabino que fala que deus gosta de quem cria valor com o trabalho e com isso gera dinheiro.

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    4. Ademais buscar respostas sobre a economia do mundo moderno na religião é bobagem. Se sua religião recrimina a riqueza provavelmente é por um conjunto de regras escrito por quem queria manter-se no poder diminuindo o capitalismo e a mobilidade social do que pelos valores espirituais que ela prega.

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    5. Todas as religiões propõe-se a dar respostas para todas as coisas na vida, inclusive dinheiro. Seguir uma religião deve ser encarado como buscar seguir seus preceitos baseados na interpretação pessoal, e não na opinião de algum líder religioso específico.
      Também não pode se generalizar sobre o tema de que quem prega a pobreza é alguém rico que queria se manter no poder. Existem inúmeros exemplos que mostram o contrário. Não pode se generalizar em nenhuma das vertentes de pensamento.

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  3. Olá SB,

    Muito bem feito o seu texto. Não sou religioso, porém respeito todas as formas de fé ao meu redor. Ninguém pode ter plena certeza sobre o que transcende (ou não) a nossa existência terrena.

    Feita a ressalva, tenho certa dificuldade em compreender como seguir uma religião cujos fundamentos são historicamente manipulados pela igreja (instituição) de acordo com circunstâncias históricas. Vide a questão da usura e a reinterpretação de Calvino sobre o assunto.

    Abraço do DM! Espero que continue assíduo em suas publicações!

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    1. Obrigado Mascada. Espero continuar postando toda semana. Em relação à seguir uma religião e suas manipulações por parte de pessoas, também vejo que é um desafio enorme. Esse é um dos motivos de não ser frequentador de igreja. Busco interpretação pessoal das coisas e ter minha comunhão com Deus. Muitas pessoas criticam, mas se for ver muitos personagens bíblicos viviam sem frequentar igreja alguma é são exemplos bem melhores do q muitos nos dias de hoje. Abraços

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    2. Bufunfa e DM!

      Essa é justamente a questão de eu não frequentar igreja... Como é regida por homens, sabemos que infelizmente a palavra pode ser distorcida, usada para outros fins (vide islã) entre outros... Quando falei acima sobre o filme O Livro de Eli, foi para mostrar justamente essa questão da religião. Em mãos de quem saiba usa-la, ela é extremamente poderosa (para o bem/mal)

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  4. Nossa um assunto muito delicado para se comentar hoje dia, você expôs ele muito bem.

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    1. Obrigado Sócrates. Realmente fiquei receoso ao escrever sobre o tema.

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  5. Die protestantische Ethik und der 'Geist' des Kapitalismus é uma obra produzida por Max Weber, se gosta do tema leia este livro.

    Anon PX

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  6. Apesar de não professar nenhum tipo de fé (embora aprecie os ensinamentos Budistas e Cristãos) achei o texto muito bem escrito e relevante. E política e religião se discutem sim, desde que de forma razoável como foi o caso deste texto.
    Parabéns.

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